Gramática Prática da Língua Espanhola
O espanhol é uma língua indo-europeia, pertencente ao grupo ibero-românico, que evoluiu de vários dialetos do latim vulgar na Península Ibérica após o colapso do Império Romano Ocidental no século V. Os textos latinos mais antigos com vestígios do espanhol vêm de meados do século IX. O primeiro uso escrito sistemático da língua aconteceu em Toledo, uma cidade proeminente do Reino de Castela, no século XIII. A partir de 1492, a língua espanhola foi levada para os vice-reinados do Império Espanhol, principalmente para as Américas, bem como territórios na África, Oceania e Filipinas.
Também conhecido como castelhano, o espanhol atualmente é uma língua global com quase 500 milhões de falantes nativos, principalmente na Espanha e nas Américas. É a segunda língua nativa mais falada no mundo, depois do mandarim, e a quarta língua mais falada no mundo, depois do inglês, do mandarim e do hindi.
Sendo uma língua pluricêntrica, é bem natural que o espanhol tenha variações de um lugar para outro. Sendo uma língua com uma tradição literária de séculos, é também natural que ela carregue traços das mudanças que sofreu ao longo do tempo. Juntando estes dois fatores, temos um cenário um pouco assustador ao tentar definir padrões e parâmetros para a língua espanhola, estabelecendo o que é correto (de um ponto de vista descritivo) ou aceitável.
Há ainda o fator do contato com outras línguas, especialmente línguas locais, tais como basco na Espanha, o quechua, aymará e outras no Peru, na Bolívia &c., nahuatl no México &c. Estas línguas exercem uma influência bem clara no vocabulário das variantes locais do espanhol, mas ocasionalmente esta influência se faz sentir também na gramática ou na pronúncia.
Ou seja, ao se falar de "língua espanhola", temos hoje que determinar de qual "língua" estamos, de fato, falando. O espanhol formal ou literário da Argentina é consideravelmente diferente do espanhol informal e coloquial da Espanha, por exemplo. E o espanhol formal da Espanha é consideravelmente diferente do espanhol coloquial falado na Venezuela ou no México, p. ex.
Ao decidirmos descrever a gramática da língua espanhola, precisamos fazer uma escolha: qual variante da língua vamos abordar? A escolha mais comum é tratar apenas da variante formal, standard, da Espanha, de acordo com os padrões definidos pela Real Academia Española. Ou ainda seguir os padrões de alguma das outras Academias de la Lengua Española (Colombiana, Ecuatoriana, Mexicana &c.). Esta abordagem tem a vantagem de tratar de uma variante da língua espanhola reconhecida internacionalmente, sendo o ideal para comunicação em situações formais, para o acesso à maior parte da produção literária em língua espanhola, e dando acesso a uma forma da língua que pode ser utilizada em qualquer comunidade de língua espanhola.
Uma desvantagem desta decisão é que, ao abordar apenas uma variante formal da língua, deixamos de lado uma imensa riqueza de formas de expressão que são utilizadas por milhões de pessoas ao redor do mundo. Isto é bem mais visível no vocabulário: para muitos conceitos, cada comunidade adota um vocábulo diferente e, frequentemente, uma palavra que é usada com um sentido em um país, tem um sentido bem diferente em outro.
Considerando estes fatores, para este trabalho resolvemos adotar uma abordagem mista: trataremos da variante formal, standard, do espanhol, de acordo com a Real Academia Española, e indicaremos, onde for oportuno, algumas das variantes mais relevantes, do ponto de vista de um estudante estrangeiro. Naturalmente não é possível, ou pelo menos praticável, indicar todas as variantes existentes para cada ponto gramatical, ou dar todas as equivalências de cada palavra do vocabulário. Mas faremos o possível para dar uma ideia geral das variantes que você terá maior probabilidade de encontrar ao viajar ou ao conversar com falantes de espanhol de diferentes países.